quinta-feira, 12 de março de 2015

Doença de ouvido, nariz e garganta pode ser descoberta
na cadeira do cirurgião-dentista

Alguns aspectos relevantes da interface entre o cirurgião-dentista e o otorrinolaringologista – médico especializado em ‘ouvido, nariz e garganta’ – não costumam ser divulgados, mas sabe-se que é grande o número de pacientes que, por recorrerem com mais frequência a tratamentos odontológicos, acabam descobrindo problemas que nada têm a ver com os dentes. “É cada vez mais importante o papel do cirurgião-dentista na detecção precoce de doenças de cabeça e pescoço. Por isso, a combinação de conhecimentos específicos nessa região com uma análise criteriosa do paciente faz do profissional de Odontologia uma peça-chave no diagnóstico precoce de muitas doenças que talvez demorassem a se manifestar”, diz Edson Ibrahim Mitre, médico otorrinolaringologista que acaba de integrar o corpo docente da Escola de Aperfeiçoamento Profissional da APCD Central (Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas).

O especialista afirma que outra situação comum é examinar pacientes com queixa de dor de ouvido e acabar num diagnóstico de DTM – Disfunção Temporomandibular. “Existe uma íntima relação entre a articulação temporomandibular (ATM) e o conduto auditivo externo. Daí a queixa, por parte do paciente, de que o ouvido também dói. A DTM provoca uma dor que pode repercutir por toda a cabeça, maxilar, pescoço, ouvidos e até mesmo nas costas. Trata-se de uma das queixas mais comuns em mulheres entre 30 e 45 anos, comprometendo, inclusive, a qualidade de vida dessas pacientes”.

Mitre confirma a importância da interação entre as especialidades, já que o diagnóstico de DTM prevê um desgaste anormal dos dentes e de seu esmalte, podendo provocar quebra e fissuras em alguns casos. Esses danos são causados pelo bruxismo – que é o ranger e apertar dos dentes de forma involuntária e, na maioria das vezes, durante a noite. “Tais distúrbios da articulação mandibular podem apresentar estalos, travamento, restringir a abertura da boca e, obviamente, repercutir essa dor nos ouvidos. Para reduzir o desgaste dos dentes e as dores craniofaciais de forma mais imediata, geralmente os cirurgiões-dentistas optam por placas interoclusais para uso noturno. Com a melhora do quadro, também a dor de ouvido tende a desaparecer”.

Também estão ficando mais comuns os casos em que o especialista em ouvido, nariz e garganta acaba diagnosticando uma sinusite que teve origem na infecção dos dentes da arcada superior, numa doença dos ossos maxilares, ou que resultam de um implante dentário que se projetou acidentalmente no seio maxilar ou na cavidade nasal. “Quando um corpo estranho, quer seja o metal do implante dentário, quer seja algum material do tratamento de canal, penetra no seio maxilar ou na cavidade nasal, desencadeia uma reação que pode levar a infecções agudas e até mesmo a sinusites crônicas. Em determinados casos, são necessárias intervenções cirúrgicas para sua resolução – inclusive, levando à perda do implante dentário”, diz Mitre.

Na opinião do médico, conhecer bem a anatomia da cabeça e do pescoço vem se tornando importante para muitos cirurgiões-dentistas que lidam com procedimentos invasivos e sabem que podem evitar que determinados problemas ou doenças se agravem. Como a Odontologia brasileira está bastante avançada, esse é um caminho natural na formação dos cirurgiões-dentistas.

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